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Institucional Portal NC (Destaque 1)

Vítima uruguaia de trabalho escravo em Planura relata sua experiência em live no Facebook

Luciana Pereira, 29 anos, detalha em transmissão como foi aliciada e os seis meses de exploração.

Por Portal Notícias Colômbia SP em 29/04/2025 às 16:50:38 - Atualizado há

A uruguaia Luciana Pereira, de 29 anos, uma das vítimas de trabalho análogo à escravidão em Planura, relatou, em espanhol, sua experiência com os suspeitos em uma transmissão ao vivo de cerca de 35 minutos no Facebook. No vídeo, ela descreveu como foi atraída por falsas promessas de estudo e trabalho, além de sua rotina durante os seis meses em que permaneceu sob o controle do trio.

Natural de Rivera, Uruguai, Luciana contou que é uma mulher trans ativista desde 2012, sendo uma das primeiras a obter a mudança de gênero em documentos oficiais no país. Após anos morando em diferentes regiões do Brasil, incluindo Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina, decidiu aceitar a proposta dos suspeitos. "Vim para o Brasil e, como tudo na vida, nada é maravilhoso. Depois de cinco anos vivendo no Rio Grande do Sul, fui para São Paulo, não deu certo, voltei, fui para Santa Catarina, Balneário Camboriú, fiquei um ano trabalhando nessa cidade turística. Fiz minha identificação brasileira", relatou.

"Através de pessoas que conheci pelo Facebook, que divulgavam muito seu trabalho, sua profissão – dono de um polo de universidade privada, de uma escola, seu companheiro contador – no dia 17 de julho de 2024, tomei a decisão de aceitar a proposta deles", afirmou. "Caí na tentação, pela necessidade que tinha de ficar em dia com meus estudos, aceitando a proposta que me fizeram de poder estudar, completar meu ensino médio na instituição deles, já que não tinha meus estudos completos. Depois de muitos anos como cabeleireira, tomei a decisão de avançar e vi como uma oportunidade."

Ao chegar a Planura, Luciana afirmou que a realidade foi diferente do prometido. "Ao chegar lá, as coisas não foram nada como o esperado."

Segundo seu relato, já na primeira madrugada após a chegada a Planura, presenciou um episódio de agressão contra um trabalhador nordestino que estava na casa e havia descoberto que tinha sido despedido. Ela contou que, no dia 18 de julho, a viagem de carro foi extensa e que seus futuros patrões foram buscá-la.

"Nessa mesma madrugada, esse suposto companheiro de trabalho, que não deveria estar mais lá, estava lá. Os três começaram a agredi-lo, machucá-lo, bater nele, e assim foi sucessivamente por seis meses, que estive lá."

De acordo com reportagens anteriores publicadas por este portal, Luciana foi a segunda vítima identificada na operação que resgatou um homem nordestino de 32 anos, mantido em cativeiro por cerca de oito anos.

Os investigados são três homens – um contador, um e um professor – donos de uma instituição de ensino privada, de uma agência de viagens e de um escritório de contabilidade em Planura.

Luciana afirmou que começou como empregada doméstica, com a promessa de futuramente alugar um imóvel próprio. "A proposta foi de eu ser empregada doméstica da casa no começo, até me estabilizar e depois poder alugar minha própria casa, só que isso nunca acontecia porque o que me pagavam, quando me pagavam, não cobria minhas necessidades e era feito para me manter presa."

Ela também atuava como tradutora na agência de viagens. "Fui tradutora de espanhol para português para uma agência de viagens." Sobre a remuneração, disse: "Os pagamentos nunca estavam em dia, os recibos eram falsos, os pagamentos não eram corretos."

Luciana negou uma informação que circulou em reportagens: "Estão divulgando incorretamente que fui tatuada com as iniciais deles – eu não tenho essa tatuagem, não tenho essa marca." A tatuagem, conforme matérias anteriores, foi feita apenas no trabalhador nordestino.

Durante o período, afirmou que não era trancada, mas estava sempre sob vigilância. "Eu vivia no mesmo lugar, nunca estive trancada, mas sempre oprimida, sem poder sair ou fazer as unhas com alguém que eu queria." Ela manteve contato com a família por telefone. "Nunca tiraram meu telefone porque minha família sempre esteve atenta a mim, me ligando – minha avó de Montevidéu, minha mãe – então eles viam que seria um risco se eu desaparecesse."

Ela relatou ainda que o outro trabalhador sofreu agressões e ameaças. "Meu companheiro se enforcou dentro da casa, dentro do trabalho. Quando tentei chamar a polícia e médicos, eles me proibiram de fazê-lo, mas havia câmeras e tudo estava filmado. Meu suposto patrão me disse que, se algo pior acontecesse, era só fazer um buraco e enterrar."

Em 17 de dezembro, Luciana sofreu um AVC químico, que atribuiu à inalação de água sanitária durante a limpeza da cozinha. "Paralisou todo o lado esquerdo do meu corpo, mas, como não foi um AVC cerebral, não tive coágulos de sangue na cabeça. Foi apenas um AVC químico da veia carótida que afetou o coração e me deu um coágulo de sangue que causou a paralisia do corpo." Ela foi levada para Uberaba. "Mesmo assim, fui ameaçada a dizer que eles eram apenas meus amigos e não meus patrões, com a boca torta, sem poder falar muito."

Após a internação, afirmou ter sido abandonada. "Quando eles fizeram uma viagem para o Caribe foi quando me abandonaram, esses últimos dois meses depois de seis meses de trabalho, porque eu já não podia ter movimento nenhum."

Conseguiu retornar ao sul do país com ajuda de amigos. "aram-se os dias, eu trabalhava como sempre, acordando cedo. [...] Mas eu também não me via no direito de assustar minha família ou pessoas que não teriam condições de me ajudar, porque financeiramente eu não teria como sair de lá, era muito longe."

Atualmente, Luciana afirma estar recebendo apoio das autoridades brasileiras e uruguaias. "A Embaixada do Uruguai se comunicou comigo, assim como a Polícia Federal, o Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais, projetos sociais de combate ao trabalho escravo da Polícia Federal de Uberlândia e Uberaba."

As denúncias foram feitas por meio do Disque 100, canal de denúncias de violações de direitos humanos.

Ela encerrou sua live com um alerta: "Nunca mais, peço ao universo, que nem eu, nem ninguém, nem você que está do outro lado assistindo a este vídeo, se permita, por necessidade, ser manipulado, pisoteado, escravizado, especialmente nos tempos em que vivemos."

O caso de Planura teve repercussão internacional. Os três acusados de serem responsáveis pelo esquema de exploração foram presos e seguem detidos na Penitenciária Professor Aluízio Ignácio de Oliveira, em Uberaba.

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